quinta-feira, 10 de março de 2011

Dodge Magnum 1979 cinza báltico - C088656

Bom, já contei sobre os Dodges da minha infância. Foram apenas dois, mas que realmente deixaram saudades. Esta ano se completam trinta anos que o Magnum cinza do meu avô foi vendido. Eu tinha nove anos na época e nenhum poder de decisão. Aliás, soube da venda do carro quando ele já havia sido entregue.

Na verdade, com a morte do meu avô a vida dos meus pais mudou muito, principalmente a da minha mãe. Preciso contar um pouco sobre ela para que, quem não a conhece, entenda a situação. Ela não foi criada para assumir negócios ou seguir uma carreira. E também nunca perseguiu isso. Estudou até o final do ginásio e depois se dedicou ( e ainda o faz) ao trabalho voluntário. Casou-se com meu pai no final dos anos  sessenta e pronto. Já estava traçada a sua vida.

Mas as coisas não saíram como o planejado, como sempre! Filha única, com a morte do pai resolveu assumir a empresa. Foi um período muito difícil, como a fábrica ficava no interior e nós morávamos em São Paulo, ficávamos até três meses sem vê-la. Nesse período muito complicado meu pai foi muito firme e cuidou muito bem de mim e do meu irmão.

Com essa confusão toda, juntamente com a crise dos anos 80, quem iria ligar para os carros? O Magnum ficava estacionado meses na garagem, sem funcionar. Apesar de ser o nosso carro mais novo, era também o que consumia mais combustível. E minha mãe não utilizava o carro por tristeza. E o Passat era um carro mais prático, consumia menos combustível e tinha um porta malas gigantesco, onde eram carregadas peças de teares, amostras de tecido, e todo o sortimento de tranqueiras que precisássemos carregar.

Enfim, acabaram por vender o carro. Foi para um comerciante da 25 de Março, tradicional rua de comércio de tecidos, atualmente de todas as tranqueiras possíveis vindas da China também. Esse senhor morreu faz pouco tempo, mas o carro não era mais dele.

Muitos anos se passaram. Minha mãe, com sua persistência e dedicação, até teve sucesso com a tecelagem, que funcionou até o ano 2000. Foram vinte anos a frente do negócio, infelizmente o ramo de tecelagem deixou de ser interessante para as pequenas empresas, por ocasião da abertura do mercado. Enfim, ficam as boas recordações da tecelagem, sempre vou lembrar do cheiro de óleo da caldeira ligada, dos rolos dos teares sendo engomados e do tecido pronto sendo medido e embalado... enfim, já foi.

Em 2009 comprei um Dodge muito bom, e havia tomado a decisão que não compraria mais nenhum. Aliás, tinha assumido o compromisso com minha mulher que não compraria mais carros antigos. Por falta de espaço, pelo gasto de dinheiro que representa um carro antigo, e até por falta de tempo para usar, já que é um hobby que exige dedicação de tempo, além da monetária. Até havia cogitado a venda do Dart. Mas Dodge só se compra, não se vende, e desisti de vender o Dart. Vale citar que o Dart ficou três anos em um longo processo de hibernação, pois meu funileiro e grande amigo José não se animava em começar o trabalho. Hoje a restauração está correndo bem, deve levar mais um ano para o carro voltar a andar.

Desde que entrei no "ramo", adquiri um hábito ou vício, dependendo do ponto de vista. Sempre entro no site Mercado Livre para procurar carros e peças. Já comprei muita coisa neste site e raramente tive problemas. Adoro ver anúncios de carros lá, e sempre aparecem coisas interessantes. Como tudo é caro e eu cumpro minhas promessas, não havia perigo de comprar outro carro.

Sempre que me deparo com um Magnum ou com o Charger faço a tradicional pergunta:

"Amigo, o chassi de seu Dodge é C088324 (se for Magnum) / C059825 (se for r/T 74)?". Claro que até hoje não recebi nenhuma resposta positiva. As vezes fiquei até aliviado, dado o estado do carro anunciado.

Os Magnum originais são difíceis de serem vistos a venda. E quando são, geralmente são brancos ou marrons. Deparei-me nestes anos com alguns carros cinzas de plaqueta, mas nenhum era o procurado. Encontrei carros até num preço convidativo, mas a restauração me desanimava, não só pela funilaria, mas também pela falta de detalhes. Magnum sem calotas e sem bancos originais acabam por perder muito do brilho do modelo. O mais perto que cheguei foi num carro de um amigo comerciante de Dodges, bem conhecido. Mas promessa era promessa e não fui em frente. Era um carro bom para restauração, mas eu já tinha um grande problema para resolver, a reforma do meu Dart. Uma restauração é sempre uma incógnita quanto ao custo. E eu não poderia encarar mais uma, mesmo com o preço do carro sendo muito bom. Para tornar mais interessante, o carro das fotos abaixo é do milhar 88, menos de 350 carros de distância do procurado. Enfim, não era para ser.




No final do ano passado aconteceu uma verdadeira enxurrada de Magnum cinza no Mercado Livre. Dois em Porto Alegre, um no Mato Grosso, além de outros bem descaracterizados. Os carros eram muito bons, exceto o último, para restauração total.

Fiz a tradicional pergunta, sem sucesso. Fiquei até aliviado, nenhum deles era muito barato e eu não poderia gastar dinheiro naquele momento. Comentei sobre os carros com um amigo ou outro, e por fim esqueci o assunto.

Alguns dias depois, recebo um email do meu amigo Alexandre. "Se mexe, o carro é muito bom e o preço também". Acabei ligando para o dono em POA, o carro parecia ser muito bom. E para colocar mais lenha na fogueira, contou-me que o carro é do milhar 88, apenas 320 carros de distância do procurado. Ou seja, conviveram no pátio da CDB, provavelmente.

Comentei com minha mulher, que achou loucura e fui obrigado a concordar com ela. Minha mulher é fantástica, e apesar de não gostar de carros, entende a minha paixão. Fiquei pensativo, um pouco quieto, após falar com o dono do carro. Fiquei muito interessado, mas não iria comprar. Ela, com sua grande sensibilidade, percebeu e perguntou se o problema era o carro, o que respondi afirmativamente.

"Se é importante para você, vai lá ver e compre.". Dia seguinte estava em Congonhas, embarcando para POA. Insanidade total. Não conheço a cidade, não conhecia o dono e o bairro era distante do aeroporto. Perguntei para ele se havia um hotelzinho perto, e me surpreendi com o convite: "Fica em casa mesmo, tem espaço.". Muito diferente do que estamos acostumados em SP.

Cheguei em POA a noite. O dono do carro estava me esperando no aeroporto. Fomos conversando, a casa dele fica a 40 km do aeroporto. Ficamos grandes amigos, a família dele é espetacular, fui muito bem recebido e me senti em casa! Assim que chegamos fui ver o carro, e no mesmo segundo falei: "É meu!". Abri minha mala, tirei o adesivo "EMOÇÃO 79" de dentro e colei no carro. O Badolato me deu este adesivo uns anos antes. Guardei, precisava apenas do carro para colar!

No dia seguinte andei com o carro, que naturalmente precisava de uma boa revisão. O dono estava investindo pesado na reforma de um outro Dodge e resolveu vender o Magnum, do qual já era proprietário desde 2000. Tudo resolvido, carro pago, recibo na carteira, vamos embarcar o carro! Chegando na transportadora, descobrimos que seria necessária uma nota fiscal com o carimbo de um orgão estadual (esqueci o nome...) liberando a saída do estado. Foi uma loucura. Corremos feito loucos, a tal repartição fechava as 17h e a transportadora fechava as 18h. Na volta, fomos pelo porto. Só dodge proporciona estas loucuras.

Carro embarcado, peguei o vôo para casa. Dois dias depois o Magnum desembarcou na oficina. Está sendo totalmente revisado. O desmonte revelou ser um carro muito original ainda. As faixas laterais são ainda as de fábrica, o que reforça a decisão de nunca pintar o carro inteiro. Serão feitos apenas alguns retoques.

Finalmente eu teria um Magnum. A emoção da minha mãe ao ver o carro foi algo ímpar. Hoje, como estou em férias, vou levar a bateria nova, as rodas recém reformadas e os pneus novos para a oficina. Saindo de lá, irá para a funilaria. Eu e meu mecânico retiramos o porta malas e mandamos reproduzir a tinta. Vale lembrar que ele tem um gêmeo do meu carro! O carro não será restaurado, apenas retocarei onde for necessário. Será o mais original possível.









abraços

Vital

4 comentários:

  1. Muito bacana ver esta sua dedicacao e muito interessante da forma como voce escreveu.
    Em relacao a atitude de comprar e "curtir" gostaria de falar o seguinte: caixao nao tem gaveta.

    ResponderExcluir
  2. Stabile, obrigado pelo comentário. Quanto a usar, é falta de tempo mesmo. Minha semana é corrida demais e meu final de semana eu dedico aos meus filhos pequenos, mas todos os sábados e domingos pela manhã eu rodo com os carros. Mas você tem razão, fica tudo por aqui depois.

    abraços,

    Vital

    ResponderExcluir
  3. Quando os sonhos se realizam, o peão dorme feliz!
    Que empreitada, passei por isso há um ano atrás com o meu. Caso idêntico, esse Dodge era para ser seu e o foi.

    ResponderExcluir
  4. Jackson, obrigado! Quando postar a história do meu Charger 76 você não vai acreditar! Entre conhecer e ter o carro, tem uma distância de sete anos! E o curioso é que foi o primeiro Dodge que dirigi!

    Forte abraço!

    Vital

    ResponderExcluir