Neste post sairei totalmente da proposta das minhas histórias, pois se trata de um carro inusitado. Meu Monza Classic SE 1989. Durante minha adolescência meus pais tiveram alguns Monzas. Indispensável citar o sucesso que esse carro fez nos anos 80, atingindo inclusive a liderança em vendas durante três anos consecutivos. E era realmente um carro muito bom! Símbolo da classe média, ainda era atual no final dos anos 80. Depois fizeram uma plástica forçada nos seus derradeiros anos. Não ficou ruim mas também não ficou bom.
Enfim, nunca passou pela minha cabeça ter um Monza, pelo menos depois de formado. O ponto é que eu sempre dei passos muito largos na minha vida, e isso tem prós e contras. Entre os prós, isso estimula a trabalhar mais e a alcançar mais. Entre os contras, o fato de nem sempre tudo sair como planejamos. Foi um pouco o que aconteceu no começo de 2003.
Eu e minha mulher resolvemos nos casar. Havíamos comprado um apartamento além das nossas possibilidades, dois anos antes. Foi entregue na semana da cerimônia religiosa. Graças a Deus as coisas se resolveram, mas já passei muita dureza na minha vida. Desde que a fábrica parou de ser lucrativa, passei a a ajudar pesadamente em casa, com muito orgulho ajudei a formar meu irmão caçula, entre outras coisas. O fato é que não sobrava muito dinheiro e sempre me endividei razoavelmente. E assim estava em 2003. Tínhamos dois carros razoavelmente novos, e eu estava incomodado com as nossas novas responsabilidades financeiras. Uma hipoteca, uma nova casa, etc... Hoje lembro com saudades desta fase, pois superamos com muito suor, e fica um gosto bom de vitória.
O ponto é que precisei vender meu carro para pagar as dívidas do início do nosso apartamento. O Lula acabara de ser eleito, o IGPM deu um tremendo pulo e minha dívida cresceu bem em dois únicos meses. Anunciei meu carro na segunda feira, na quinta estava assinando a transferência.
Fiquei a pé. Nada grave, pois moro perto do Metrô e a empresa na qual trabalho fica muito próxima. O fato é que eu era aluno de mestrado na Cidade Universitária naquela época. E chegar até a USP sem carro é complicado, e dividir o carro com minha mulher não estava dando certo.
Um belo dia estou passeando a pé no bairro e vejo um pequeno encontro de carros antigos, no posto de gasolina do meu amigo Carlos, que tinha um Charger na época, fato que já narrei. Vi um Monza com placa de venda. Estava irritado, sem carro. Vi o valor, 6 mil. Comprei, fiz mais uma dívida. Era para ser um quebra galho.
O problema é que comecei a gostar do carro, e sou perfeccionista. Nesta época conheci o José, meu amigo e funileiro. Fui até a oficina, no bairro da vila Mariana. Ele estava abaixado, martelando um carro. Olhou com um tremendo descaso para o carro. Perguntei quanto sairia para consertar um ponto de ferrugem na traseira. Ele respondeu que não dava orçamento para podres, só depois de pronto. Que cara mais arrogante! Mas fui em frente, e comecei a ver o trabalho dele. Resumindo, é um grande amigo hoje, já reformou dois carros meus, concertou várias batidas, e tomamos café quase todos os dias na padaria do lado da oficina.
O Zé, meu amigo e funileiro, dando uma de eletricista.
Comecei a me apegar ao carro e a querer deixa-lo zero, e fiz! Comprei parachoques novos, polainas, troquei o para brisas trincado, os frisos. O carro ficou lindo! Não que não fosse motivo de gozação da molecada, pois era o pior carro de toda a equipe no trabalho. Eu não estava nem aí. A placa dele era COC-0xxx. Pegaram as letras e o zero e não preciso falar o resto. Era o cocô.
Nos restaurantes, ficava amigo de todos os manobristas, dada a afinidade deles com o carro, alguns até tinham um. No meu prédio, eu e o porteiro tínhamos Monza. Ia ao Fifties, uma lanchonete de SP, e o manobrista deixava o carro em uma vaga especial! Realmente eu gostava desse carro, achava isso tudo divertido.
Mas nem tudo é alegria. O carro já tinha mais de 130 mil quilômetros. Era automático, não passava de 120 km/h. Fazia 5 km/l de gasolina. E dava problema todo mês. E eu arrumava! Um dia quebrou a mola dianteira. Meu amigo Luciano começou a rir desenfreadamente, dizendo que o carro sofrera um derrame.
Depois arrumei tudo e ficou muito bom! Viajei muito com ele, em 18 meses rodei 14 mil quilômetros. Todos gostavam do Monza, exceto minha mulher. Ela não se conformava com a quantidade de problemas que o carro dava e com o dinheiro consumido pelos consertos. Como ainda pagava seguro, mesmo para um carro de quatorze anos, algumas vezes o carro passeou de plataforma, até ganhei alguns lanches da Porto Seguro. Uma vez o alternador pifou na porta do vizinho, do outro lado do prédio. O carro não ia nem para frente nem para trás. Não dava para fazer pegar, pois era automático. O vizinho teve a cara de pau de falar: "Olha, seu carro é muito bonito, mas um carro destes não era para estar rodando mais. É muito velho!". E falou num tom de aconselhamento. Aguentei quieto, não valia a pena responder.
Finalmente em janeiro de 2005 minha mulher recebeu um carro da empresa e o dela ficou sobrando, e veio para mim. Condição: vender o Monza. Enrolei, falei que não valia a pena. E, de fato, era um carro difícil de vender. Não era antigo, nem clássico. Na verdade, eu achava que nunca ninguém compraria por um preço justo. Era um modelo caído, automático. Não dá para comparar um carro destes automático com os nossos carros atuais. Era realmente ruim.
Na época estávamos fazendo armários no apartamento. Novo aperto. Quase no mesmo dia uma colega de trabalho falou que o marido vira o meu carro e gostaria de comprar, perguntou se estava a venda. Saiu negócio. Não teve jeito, e em janeiro de 2005 o meu Monza mudou de casa. O rapaz parecia uma criança ao ver o carro, foi muito legal. Foi para o dono certo. Até onde sei está bem cuidado, sob capa, e é tratado como carro de coleção. Lembro do carro sumindo na minha rua, já com seu novo dono. e o preço foi razoável. Tudo bem que a mulher dele reclamou por algum tempo por eu ter vendido o carro para ele. O engraçado é, que no mesmo dia que entreguei o carro, minha mulher bateu o dela na garagem. Fiquei a pé por mais uma semana.
Lembro com muito carinho deste carro. Não tenho fotos, essa foi tirada pelo novo proprietário. Não me arrependo de te-lo vendido, meu tempo com ele já havia passado. Enquanto esteve comigo me ajudou muito.
Abraços!
Vital
Vital , adorei a história! Eu já tiva alguns carros que só me deram dor de cabeça. Não tinha confiança para viajar. Só que aí eu não vendia, eu usava um outro método: desmanchava!! Abração Cuti
ResponderExcluirCuti, obrigado pelo comentário e pela assiduidade por aqui! Legal que gostou! Um mês após a venda a esposa do dono reclamou que o carro misturava óleo com água. Carro tem vida útil, a não ser que você reforme totalmente.
ResponderExcluirEsse não, mas meu Landau 1982 me arrependo de não ter desmanchado. Aquele me deu dor de cabeça. Fiquei com tanta raiva que apaguei as fotos dele. Depois conto como foi. Pelo menos teria uma mecânica 302 para fazer um Cobra.
grande abraço e boa semana!
Bonito monza, há 5 anos atráz eu precisava de um carro mais a grana tava curta e um colega de trabalho tinha um lindo.
ResponderExcluirEle ficou de me avisar quando fosse vender mais,mais outro colega falou que tava na fila antes que eu!
Ainda bem que num comprei o carro rodou mais alguns meses e o motor travou!
Fabrício, esses carros ainda são bem baratos. Eu não tenho acompanhado, mas um muito bom não vale 8 mil. Acho eu...
ResponderExcluirabraços
Vital
Bá, na época que lancaram essas pérolas, eu tinha 13 anos de idade, estudava em uma escola particular, e os pais dos meus colegas vinham buscar os seus respectivos com essas NAVES. Meu pai dava um duro danado para eu poder estudar descentemente. Nosso meio de transporte, um Dodginho Polara GL azul metálico (não sei exatamente o tom e o nome da cor)1976, que era um carro bem guerreiro por sinal. Certa feita, estávamos viajando com o tal, costeando um rio, e o mesmo desandou sair de traseira, ia dum lado para o outro, e eu muito mané, não sabia se o pai estava brincando na areia solta ou o carro tinha se perdido. Acho que estava "dançando mesmo". Fazia um certo barulho nas estradas de chão batido, e eu só pensando porque não tínhamos dinheiro o suficiente para ter um MONZA. Certamente, ele não ia bater em estrada de chão! Ao menos era o que eu pensavam hehe. Abraços.
ResponderExcluirQue legal que esse carro ficou "inteiro"!
Jacson, esses carros realmente chamavam a atenção, quando vi um destes no final de 87 (quando foi atualizado e ficou igual a este meu) fiquei abobado. Os de casa eram comprados usados e eram SL/E. Nunca tivemos um Classic, era caro demais e não devia valer a pena.
ResponderExcluirO Monza foi o sonho de muita criança, vamos ver como ele fica em termos de coleção. Vendeu muito, principalmente o SL/E. Wu sei que eu não compro outro, rsss.... Esse ficou inteiro, com mais investimento ficaria perfeito (motor). Mas ainda bem que vendi. Um ano depois comprei o Dart 73. Grande abraço!
Vital
Vital
ResponderExcluirMuito legal a sua história com esse Monza Classic. O Monza em breve irá se tornar um carro clássico, em especial as versões Classic, SR e a Hi-Tech. Acompanho muito esse modelo, pois sou um fanático pelo Monza desde 1984. Ano passado comprei um S/R, o qual restaurei nos mínimos detalhes, parafuso por parafuso, e recentemente o vendi para um colecionador de clássicos com mais de 60 carros em sua coleção. Então, nunca diga nunca. É capaz de um outro Monza aterrizar em sua garagem...rsrsrs...
Grande abraço!
Evandro
Evandro, eu também gosto, minha mãe teve um SLE 85, um SLE 86 e um SLE 89. Um Class 93. Mas eu acho muito difícil manter o carro em ordem. Por incrível que pareça, é difícil conseguir peças de acabamento.
ResponderExcluirabraços