segunda-feira, 7 de março de 2011

Passat LS 1976 bege alabastro

Dourado é uma cidade muito boa, clima agradável, cuja fundação ocorreu na fase do café. Belas fazendas, uma linda estação ferroviária que infelizmente foi demolida, igrejas, casas pitorescas. Enfim, um lugar muito agradável. Ou que pelo menos foi um dia. Hoje é uma cidade dormitório, decadente, vou para lá esporadicamente e quando o faço, hospedo-me nos hotéis fazenda de lá.

Por razões pessoais e políticas o meu avô não comprava nem pão na cidade. Tudo era comprado em Ribeirão Bonito (ou São Paulo), uma cidade um pouco melhor estruturada, que fica há dezoito quilômetros de distância. Costumo dizer que era o pão mais caro do mundo. 7 litros de gasolina para ir e voltar, quase todo santo dia. Ele passava o dia inteiro dentro da fábrica, isso quando não estava em São Paulo a negócios.

Quando nasci meu avô comprou uma F-100 V8, para utilizar numa nova atividade, que era fabricar lençóis. Não sei o motivo, mas ele logo abandonou a idéia e a caminhonete ficou ociosa. Contarei a história dela em breve. Como todo bom negociante, ele não fazia nenhum negócio precipitado, dom que eu não herdei. Qualquer negócio feito às pressas não é um bom negócio, fico repetindo isso, mas não resolve muito. No momento estou repetindo isso como um mantra, pois estou quase fechando um negócio e estou bem ansioso.

Um grande amigo do meu avô Elias, que frequentava sempre a nossa casa, perguntou se ele venderia a F100. Ele enrolou, titubeou, mas acabou vendendo e pegando um VW TL na troca. Mal sabia ele que meu avô queria se livrar da V8 beberrona.

Eu tinha só 4 anos, mas já achava o TL uma coisa muito estranha. E eu gostava da F-100. No dia seguinte, fomos a Ribeirão Bonito, achei que para cumprir a rotina diária do pão, açougue, banco, etc... Mas entramos numa concessionária VW (acreditem, Ribeirão tinha isso!!!).  Já estava esperando, sem placas, um Passat 3 portas LS, na cor bege. Igual ao da propaganda. Eu não entendi nada, como sempre ele também não explicou. Perguntei o que estava escrito na tampa da buzina, e ele disse que estava escrito o meu nome e o do meu irmão. Estava escrito apenas PASSAT. Mal sabia eu que teria um convívio de mais de dez anos com aquela tampa de buzina, até ela cair de vez no último ano do carro conosco.



Esse carro foi comprado para uso em serviço. Minha mãe tinha a Alfa 75, meu pai um Corcel do ano, meu avô o R/T. Porém o carro era tão ágil para os padrões da época que logo minha mãe abandonou a Alfa na garagem e passou a utilizar somente este Passat. Para variar, rodou sem placas por alguns bons dias, e acabou sendo apreendido pela polícia rodoviária, mas tudo se resolveu com a chegada das placas.


Eu, meu irmão e o Passat. Cresceríamos com ele em casa. Foram 10 anos!


Nesta época eu e meu irmão passávamos quatro meses direto em férias. Era muito bom! Meus avós estavam vivos e com saúde, tudo muito bem e estabilizado, meu pai na Ford, etc... tempos bons. Quem viveu essa época sabe do que estou falando, pois nos anos 80 já estávamos numa crise tão profunda que essa época parecia que nunca tinha existido.

Eu e o Otaviano, 1976. 4 e 2 anos. Era muito bom.
Fundos da fábrica, após uma bela chuva.

Ficamos com o Passat por dez anos. Hoje não é muito para um Honda, um Toyota ou até um GM. Mas naquela época os carros apodreciam numa velocidade espantosa. Como carro em casa foi sempre para usar, era de se esperar que o carro já estivesse bem ruim.

Neste carro aprendi a dirigir sozinho, com 12 anos de idade. Engatava a primeira, dava a partida e andava nos fundos da fábrica. Claro que sem minha mãe saber. Como a primeira marcha era muito próxima da marcha a ré, dei a minha segunda batida. O carro funcionou e bateu na entrada da casa, amassando a chapa embaixo do parachoque. A chapa encostou na polia do motor e era um barulho só. Tive que contar para minha mãe. Coitada, trabalhando na fábrica e eu aprontando com o carro dela. Realmente ela teve muita paciência comigo naquele dia. Hoje fico feliz por ter conseguido comprar um carro para ela.

Esse carro levou minha mãe em todas as viagens para Dourado, de 1980 até 1986, sem opções. Era o nosso único carro. E ele aguentou muito bem! Nunca fez motor, tinha a pintura bege muito queimada. Eu lavava o carro, passava aspirador, enfim, aprendi o pouco que sei de mecânica nele. E sei muito pouco mesmo. Mesmo nas piores crises financeiras, sempre estudei em escola particular de primeira linha, fato que devo ao meu pai. O estudo permitiu que, por mim mesmo, eu conseguisse recuperar o que perdemos e dar uma boa velhice para os meus pais e planejar um bom futuro para os meus filhos.

Em 1986, depois de muita batalha, meus pais melhoraram de situação e o Passat nos deixou, de maneira silenciosa. Entrou como 20% do Monza SL/E 1985 semi novo.  Não quis ver o carro ir embora, nem soube o seu final. Nunca mais tivemos um Passat ou mesmo qualquer outro VW (exceto os meus gols). Nunca vou me esquecer da sua placa: VO-6447.

Esse carro me faz lembrar que, independente do que estamos passando, o importante é a união, o pensamento positivo e, muito, muito trabalho.

abraços !

Vital 



2 comentários:

  1. Vital, meu querido pai teve dois passat zero, um em 1979, bege jamaica, três portas e interno marrom caramelo, e um LS duas portas, preto, a álcool tirado em Janeiro de 1981, um dos primeiros da família a rodar com o combustível vegetal...Em resumo, esses carros também deixaram saudades, e eu mesmo tive tudo quanto foi tipo de Passat imaginável, desde um marrom caravela 1974 a um novíssimo Pointer branco completíssimo ano/mod. 1989...
    Os Passat foram carros muito bons, sensacionais para o seu tempo, e evoluíram bastante no decorrer da sua história, e serviram de base para tudo o que a VW fabrica aqui. E pensar que eles próprios tiveram de quebrar o paradigma dos motores refrigerados a ar, por conta de um carro de tração dianteira,refrigerado a água e que usava pneus radiais...
    Algo meio "extraterrestre" nos loucos anos 70...

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  2. MArio, o carro era muito bom. E eu dirigi! Menor de idade e tudo, 4 marchas! andava muito bem, ainda mais que o cabeçote foi rebaixado por conta de uma "fervida". Muito esperto, ruim era o afogador automático.

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