domingo, 27 de março de 2011

Alfa Romeo 2300 1975

Houve um tempo que, se estivéssemos em férias, com certeza estaríamos em Dourado. Foi uma época muito boa. Passávamos 3 meses, desde o início de dezembro até o começo de março. Começavam as férias, entrávamos no carro e lá ia a família para o interior, 300 km de estrada. Anhanguera, Washington Luiz e uma estrada de 50km até Dourado. Lembro que perguntava ao meu pai quantos km faltavam para chegar, de cinco em cinco minutos. Parávamos na metade do caminho para um lanche, tanto na ida como na volta. Na ida almoçávamos na Churrascaria Rio Grandense, éramos os primeiros clientes. Quando meu avô morreu e os donos souberam, não deixaram meus pais pagarem pelo almoço. Ele era um sujeito muito querido e deixou muitos amigos. Há poucos anos atrás parei para almoçar lá com minha mulher. Um dos donos lembrou de mim e da minha família. Eu gosto destas histórias.
Na volta o restaurante Figueira Branca era parada obrigatória. Era uma viagem mais curta que a da ida, pois não tínhamos ansiedade alguma em voltar para São Paulo. Enfim, ir para Dourado era um evento e tanto!




Eu e meu irmão, brincando na lama! Atrás da fábrica.

Hoje, mais de trinta anos depois, vendo meus filhos em suas cadeirinhas pelo retrovisor, lembro com muita saudade daquela época e desejo para eles uma infância tão feliz quanto a que eu e meu irmão tivemos. Sempre quando posso, levo a minha família para Dourado. Apesar de não ficarmos na nossa casa, sempre levo meus filhos até lá e até a fábrica, para que eles tenham contato com suas origens. Com a história da família deles.

Em 1975 minha mãe já tinha dois filhos. Ela é filha única, de um pai que sempre esperou um filho homem. Uma coisa boba hoje, mas que na época não era, ainda mais se tratando de um filho de libanês. O fato de minha mãe dar ao seu pai dois netos homens foi de uma alegria muito grande para meu avô. aí que entra em cena o carro deste post: o Alfa Romeo 2300 1975.

 Frente imponente, muito estilo.
 Lembro deste descansa braço até hoje. Eram 4 horas de viagem.
Esse painel não tem igual, até hoje. Minha opinião... O nosso não tinha A/C

Sempre gostei de carro. E de carro bom. Quando vi e me falaram o nome deste, repetia sempre: "mãe, compra um Faromeo!". Lembro-me disso como se fosse hoje. As Alfas começaram a ser feitas em 1974, a fábrica era no Rio de Janeiro. A famosa FeNeMê. Era um carro que, apesar de mal construído, de fácil corrosão, ausência de direção hidráulica, era muito charmoso. Freio a disco nas quatro rodas, um luxo que poucos nacionais apresentam nos dias de hoje. Os R/Ts não tinham. Antena elétrica, mostradores Veglia feitos na Itália. Desenho muito bonito, até hoje.

Enfim, começou a campanha da minha mãe para ganhar um carro novo. Meu avô tentou persuadi-la à comprar um Corcel Belina, mas não teve a menor chance. E em 1975, fomos à concessionária Duetto, em São Paulo. O carro custou uma pequena fortuna na época, e chamava muito a atenção por onde passava. Via-se poucos carros destes na rua. Viajamos muito pouco com esse carro, que tinha alguns problemas crônicos, como a ausência de direção assistida, o câmbio ruim, e outros diversos. Além de ser um carro pesado, diferente do Dodge e do Passat.

Mas eu adorava esse carro. Foi o que mais ficou em casa, depois do Passat 76. Quando minha mãe assumiu a fábrica, era comum eu e o meu irmão ficarmos de um a três meses sem vê-la. Meu pai cuidou de nós este tempo todo, e isso durou quase dez anos. Eu tinha treze anos, já sabia manobrar o carro. Passava a tarde na garagem com as ferramentas, desmontando lanternas, acabamentos, limpando, esquentando o motor 2300 movido exclusivamente à gasolina especial (ou azul). Aliás, esse era um grande problema. Seu motor sensível não se adaptava à péssima gasolina comum, e o carro batia pino. Era uma máquina do tempo para mim. Eu sentava ao volante, ligava o som, e voltava às épocas boas que tivemos com ele, em família!

 Em casa. Dourado-SP. Tempos inesquecíveis. Ao fundo o corcel 77.




Camisetas da Duetto. Ganhei várias da concessionária!

Quase perdendo o primeiro dente de leite.

Em 1985, ele foi vendido por um valor irrisório para um conhecido do meu pai. Foi a única vez que eu chorei por causa de um automóvel. Já não bastava ter vendido o Magnum? Agora a Alfa? E ela se foi, com seus 53 mil km rodados. Ficaram o Fusca (que eu não gostava) e o Passat, já bem deteriorado. A Alfa era o testemunho de um tempo muito bom, e estávamos em tempos muito difíceis no meio dos 80s. Raramente tínhamos dinheiro para abastecer o tanque de 100 l de gasolina. O carro ficava meses sem sair, mas sempre na garagem coberta. Foi melhor assim, racionalizando. Lembro que fazíamos lanche aos domingos com pão e manteiga, meu pai estava muito mal financeiramente, e mesmo assim curtíamos muito! Sempre fomos muito felizes, meu pai foi e é um grande pai!

Nunca mais vi meu "Faromeo", ele desapareceu do mapa. Varias vezes pensei em comprar um, mas são carros muito raros e de difícil restauração, já que apodreciam estacionados. O nosso tinha as caixas já com alguns furos. Desisti de qualquer tentativa, mas sempre levarei na memória o meu Alfa Romeo 2300. E tudo que ele representou para nós! Quem sabe um dia...

Abraços!

Luis Vital

24 comentários:

  1. É Vital a Alfa é um belo carro mais tem muitos problemas e é muito dificil achar uma com a mecanica original ainda!
    Muito boa historia!
    abs!!!

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  2. É verdade. Em todo caso, nunca se sabe. 75 marinho com interior caramelo!

    abraços! Vital

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  3. Vital.
    Sabe que o carro, Alfa Romeu 2300, nunca me chamou a atenção. Mas sei que existem vários apaixonados pela marca, e tu é um deles. Acho bacana.
    Tuas historias estão ficando muito agradaveis de ler, parabéns
    Gostei muito da churrascaria Rio Grandense. Se um dia for aí te visitar, quero jantar nesta churrascaria!!!
    Abração
    Cuti

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  4. Cuti, sei que o carro é muito ruim. Ficou na memória o tempo bacana com ele. Quanto à churrascaria, está intimado! Vamos lá, mas temos que pegar a estrada, dá uns 140 km. Vamos de Magnum, rsss....

    Obrigado pelo comentário sobre as histórias, fico contente em saber que estão agradando! É um pouco do que você disse no seu blog. Se não escrevermos, as histórias morrem.

    abraços, Vital.

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  5. Vital, este nome da churrascaria me agrada bastante "RIO GRANDENSE".
    OBRIGADO PELO CONVITE
    CUTI

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  6. Adivinha de onde são os donos, rsssss....

    Convite feito!

    Vital

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  7. Vital, vou te confessar que tenho uma queda por Alfas. Uma coisa que tem muita importância para mim, tanto em carros antigos como em novos é o painel, e sem dúvida os da alfa romeo são maravilhosos. Acho o da 164 um dos mais bonitos, aliás, ja fiquei tentado em comprar uma por diversas vezes, mas o histórico de manutenção delas me desanima. Para mim as mais bonitas são as 164 super na cor branca ou champanhe. abraços.

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  8. Max, eu gosto das 164. Das 155, 156... Mas eu não encaro. As 164 cairam em desgraça total pela manutenção. Hoje não existe uma inteira...

    Abraços

    Vital

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  9. Vital,
    até eu ler esse post não sabia que era um carro de difícil manutenção na época, sempre achei muito bonito apesar de nunca ter muito interesse.

    Em 2003 meu amigo tinha uma 164 97 acho, não tínhamos carteira de habilitação, pegamos a Alfa com 29 mil km, entregamos com 55 com o motor fundido, acho que não foi culpa de eu ser o motorista.

    Grande abraço,
    Otávio F. M Bussmann
    www.moparbussmann.blogspot.com

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  10. Otávio, obrigado pelo comentário! Era um carro muito ruim. Comparando, tínhamos O R/T, o Passat e sempre um Corcel (trocado todos os anos, pois era da frota da Ford). Eram carros bem confiáveis. Não lembro do R/T ter dado problemas nos seus cinco anos conosco, desde zero.

    A culpa não deve ter sido sua, rsss...

    Grande abraço!

    Vital

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  11. Cara, voce me fez lembrar que andei apenas 1 vez em toda minha vida num Alfa igual a este do seu pai !!! Era do marido de uma amiga da minha mãe e uma vez saimos com este casal e fomos no Alfa deles, isto em meados de 80 e pouco, e lembro que realmente era um carro bem confortável !!!! Mas não consigo me lembrar de muitos detalhes infelizmente ! Mas estas fotos de vc e seu irmão brincando na lama, me fizeram voltar no tempo... quantas vezes eu não nadei num poço de lama que tinha sido construido para criar peixes pelo meu tio la no sitio dele no sul de minas, juro que esta é a melhor fase da vida !!! quando somos felizes de verdade e não sabemos !!! kkkkkkkk !!

    Abraço

    Edu Coxinha

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  12. Edu, realmente essa fase é muito bacana! Agora vejo os meus filhos brincando, mas ainda não pegaram uma boa lama desta, rssss..... Por isso que precisamos curtir sempre o hoje!

    Grande abraço!

    Vital

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  13. Olá Luiz, me identifiquei bastante com sua história. Apesar de um pouco mais mais novo que vc (nascido em 1974), vivi com riqueza de lembranças o final de uma época áurea do Brasil, que só está se repetindo agora. Existia muita prosperidade em 70 e inicio de 1980. Viramos a década com um Landau, uma Caravan e um Passat TS tirados zero naquele 1979. Praxe ficar com o carro um ou dois anos, no máximo. Nos anos seguintes, como para todos os brasileiros, as coisas apertaram muito. Passamos para uma frota composta por um Chevette e um Monza novos em 1982 e 1983 respectivamente, como símbolo de final de uma era. Em 1986, após um erro de cálculos, o Chevette foi trocado por um Corcel II 1978 para fechar a conta do mês. Apesar de ser um Chevette, eu já adolescente chorei neste dia. Foi uma andada para trás tremenda. A coisa piorou muito com os desmandos do Collor. O Monza já bem velinho virou um Comodoro bem usado e o Corcelão ainda estava lá. Sai Collor e entra Itamar e as coisas melhoram um pouco. O Comodoro foi comprado com uma bela defasagem (1985/1990) e em 1992 passamos para um Diplomata "quase zero" (para aqueles sombrios anos era quase zero) modelo 1989. Finalmente o Corcelão vai embora cedendo espaço para dois Escort impecáveis, mas não zero. Chorei outra vez, mas de pena. O Corcel II que nos tinha servido com tanta dedicação, não me lembro dele na oficina, tinha virado símbolo de nossa decadência. Vendo hoje o bravo velinho não merecia esse rótulo. O melhor disso é que um dos Escorts era o meu primeiro carro. Tinha 18 anos então. De lá para cá as coisas melhoraram muito. Em 1998 comprei uma Alfa Spider (1997) nova em folha. Descobri que no meu peito não tinha um coração e sim um Cuore. Depois veio uma 164 em excelente estado. Ano passado uma 156 V6 raríssima e com 10.000 Km, e finalmente agora cheguei no seu post. Consegui comprar o carro que me fascinou lá quando eu era criança e um amigo do meu pai entrou no terreno da nossa casa conduzido por um choufer de quepe e luvas brancas. Ele estava de Alfa 2300! Ela agora repousa ao lado de suas outras 3 irmãs italianas, magnífica e numa garagem quentinha, só bebe Podium, e faz um cooper uma vez por semana. Estou no céu antes do tempo. Abcs, Casé

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  14. Nos endereços abaixo tem uma 2300/1974:

    1. Fotos:

    http://hruas.multiply.com/photos/album/14/Alfa_Romeo_2300_-_ano_1974

    2. Filmes:

    -- Aniversário de 25.000 Km: http://www.vimeo.com/8685953

    -- Prova da Lagoa da Harmonia (Teutônia – RS), em março de 2010: http://www.youtube.com/watch?v=orBJqjy5oDk

    -- Prova da Lagoa da Harmonia (Teutônia – RS), em março de 2011:

    http://www.youtube.com/watch?v=jizfeWsEvTE

    3. História:

    http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=665859&tid=5378770123841067993

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  15. Meus caros, exitem muitas Alfas por ai. Eu sei que quem esta envolvido com o automobilismo e antigomobilismo nao ve Alfa. Na verdade os Alfistas compoem uma tribo, ou melhor, uma seita meio isolada. As 2300 nao sao ruins nao. Pegaram esta fama pois eram complicadas e complexas no tempo de carros simples. As 164 foram queimadas pela Fiat, e tenho q confessar, sao caras de manter mesmo, mas nao impossiveis ou impraticaveis. A galera do Alfa Romeo BR (www.alfaromeobr.com.br) tem todos os caminhos das pedras que permitem que eu possa ser feliz com as minhas 2300 1974, 164 12V, e uma exclusiva 156 V6 manual 1999. abraco a todos.

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  16. Vital, se o carro foi vendido com placa cinza, podemos achar ela, ou se voce tiver o numero do chassi. Veja a pesquisa nacional do alfa Romeo BR, temos mais de 10.000 fotos e registros de 2300 ainda ativas (ou meio ativas) e algumas mortas tambem. Manda pra mim no alfa2300@bol.com.br abraxco

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  17. Minha 2300 podia parecer complexa nos tempos do fusca, afinal tinha até radiador. Hoje o que mais me impressiona nela é a simplicidade mecânica e o espaço no cofre do motor, está tudo à mostra. Ao lavá-la, notei que é um carro muito bem acabado, com detalhes sofisticados, apesar de ser da primeira série.
    Quanto ao câmbio, concordo: é um lixo, nem parece sincronizado. Agora já aprendi a usar, dá bastante trabalho, principalmente pra engatar a primeira. Às vezes estou na primeira fila no semáforo e tenho que me submeter ao ritual para engatar a marcha: engatar segunda e tentar engatar a primeira. Se não funcionar, levantar o pé um pouquinho da embreagem, voltar a pressionar e tentar de novo. É um saco, dá vontade de partir para a ignorência, mas não tem jeito, é asim mesmo. Já mandei abrir a caixa, mas o especialista me disse que o câmbio era novo, só trocou o sincronizador da primeira. Melhorou um pouco.
    Dirigi uma 2300 ano 80 e parece outro carro, bem mais macio e suave, câmbio e embreagem perfeitos. Sinal de evolução.

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    1. Helio. Como proprietario de 2300 primeira serie, e autodidata mexanico posso te garantir que nao era problema do cambio, que e´ identico aos cambios da serie 105 italiana. O pulo do gato e´ a regulagem das das hastes dos 2 cilindros da embreagem, após sangramento do primeiro cilindro, e depois do segundo com pressao positiva no reservatorio do fluido. Com o desgaste do disco de embreagem, ha de se regular a haste do cilindro auxiliar. Claro que poderia estar com aneis desgastados, mas pela pouca quilometragem do seu carro e´provavel que fosse a regulagem. O ponto critico deste cambio é a marcha re´. A engrenagem e´muito pequena e perde os dentes facilmente escapando a alavanca.

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    2. Ou ate mesmo flexivel rompido.

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  18. Caro Casé, obrigado pelo comentário. Eu era doente por Alfa 2300 desde 1974, com 2 anos. Em 1975 meu avô comprou-a zero, interior caramelo. Nas crises de 84, 85 minha mãe praticamente só vinha 2 vezes por mês para casa. Eu passava boas tardes na garagem desmontando lanternas, limpando, ligando o motor, ouvindo música no sensacional equipamento que ela tinha. E posso dizer que não existiu painel mais bonito que o daquela Alfa.

    Na verdade não entendo porque venderam. O que foi pago mal deve ter dado para pagar as contas do mês. Mas faz parte.

    Um grande abraço e obrigado pelo seu comentário! Seja bem vindo, vou procurar mais coisas da Alfa.

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  19. Caro Renato 155, não devem ser mesmo. A tribo dos alfistas é mais exclusiva principalmente porque sobraram muito poucos 2300. Quando compramos zero, na Duetto, as pessoas olhavam como se estivessem vendo uma nave espacial. Era rara, cara e exclusiva. E seu desenho não envelheceu. Até hoje uma 2300 75 como a minha é algo fora de série. Mas sinceramente não vejo uma andando há anos. Vi uma branca 76 na vila Mariana ano passado. Linda, com bancos pretos. Mas foi só.

    Os Dodges ainda são vistos com mais freqüência, apesar de terem sofridos mais discriminação ainda.

    O problema da nossa 2300 era a corrosão. E o vazamento de óleo original de fábrica, rsss....

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  20. Hélio, a sua é 74? a nossa nào tinha problema com a 1a não. O problema maior era a batida de válvula por usar gasolina amarela.


    Renato, ela foi vendida em 1985, eu tinha 13 anos. E a placa dela era amarela, de Dourado SP. Apesar de ter encontrado as notas dos Dodges, e até de um DKW, não achei a nota da Alfa, infelizmente... Vou continuar tentando.

    Grande abraço e obrigado a todos pelos comentários no post da Alfa. Foi um tremendo carro.

    abraços!

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  21. Muito legal sua historia em 1980 eu morei atraz da fabrica na famosa torre meu pai conta que eu subi la tinha 4 anos ele ficou maluco ao saber quantas historias que saudade infancia que nem as nossas sao poucas pessoas que tiveram abraço amigo

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  22. Em 1977 minha mae ganhou na rifa uma Alfa Romeo JK 2150 branca. Embora meia deteriorada, foi paixao a primeira vista (tinha 13 anos) na epoca. POr varios motivos de mecanica e estetica, ela teve o mesmo final pois foi vendida por um valor simbolico (arranquei todos os emblemas dela) que me fizeram devoler.

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