Quando meu pai saiu da Ford, em 1978, foi trabalhar com meu avô, no caso sogro dele. Não compensa tocar mais neste assunto, mas por muito tempo achamos que foi a pior besteira que ele fez. Meu pai é o melhor engenheiro que eu conheço, mas não é o que podemos chamar de um empreendedor. Realmente é um choque. Sair de uma empresa como a Ford, com procedimentos, processos, métodos, departamentos, para cair numa empresa pequena, familiar, com dono, uma verdadeira bagunça. Não preciso falar que tinha tudo para dar errado. e deu. Poucos meses depois meu pai desistiu e resolveu começar tudo de novo.
Não foi fácil para ele. Assim como eu, meu velho era um engenheiro de carreira. Ele entrou na Willys em 1968 e foi subindo degraus. Já citei no post do Corcel o orgulho que sentia de ter um pai engenheiro da Ford. Lá ele aprendeu muito sobre motores, qualidade e processos.
Precisou começar de novo no meio da crise do começo dos anos 80. Como na Ford ele não precisava possuir um carro, pois tinha carro alugado, logo que saiu ele ficou utilizando o Passat, que era da fábrica. Saindo de lá, ficou a pé. Neste momento que entra em cena o protagonista deste post.
Segue uma foto interessante, que acabei de tirar com o iphone e ficou muito ruim. é uma bandeja de prata que meu pai ganhou como homenagem de seus colegas da Ford.
"Ao Engenheiro Euclides da Cunha Vianna Filho. Lembrança dos seus colegas da Ford"
Em seguida o nome de todos eles. Comecei a ler, e lembro ainda de alguns destes nomes do passado. Atrás, uma gozação: "Pelo que nada fez, e por tudo que deveria fazer". Está com data de 14 de abril de 1978. Parece que foi ontem.
Não foi fácil. Depois da saída da Ford, numa época de muita crise no nosso país, meu pai não se realizou mais profissionalmente. Passou pela VW, Keiper Acil e Antenas Truffi, sendo o último o pior de todos. Passamos por fases muito difíceis, vi meu pai ser demitido e ficar desempregado algumas vezes. E nunca, nunca deixei de frequentar escola particular. Lembro dele me levando todas as manhãs, 6:15, para o curso pré-vestibular Anglo Latino, no seu velho Fusca, e depois indo para Cotia trabalhar. Lembro também do choro de felicidade dele quando entrei no curso de engenharia da Escola Politécnica da USP, entre os dez primeiros colocados. Posso ter sucesso profissional, mas rezo para que consiga ser o pai que o meu pai foi para mim e para meu irmão. Esse é o real sucesso que um homem pode ter.
Lembro bem disso, durante muitas vezes todos lamentamos essa decisão. Mas com o tempo aprendemos que a melhor decisão é a que foi tomada. Uma vez escolhido o caminho, siga por ele com toda a garra! Nada de se arrepender. Quem pode dizer se o que não fizemos seria o melhor? O negócio é esquecer. Meu pai ainda se arrepende um pouco. Mas hoje ele é um sujeito tão feliz, saudável, bonachão, e nos seus 72 anos é ainda muito ativo.
Lembro que, em 2004, fui apresentar um artigo num congresso em Araraquara, na época do mestrado. Ele me acompanhou, e começou a participar dos debates duma maneira que fiquei impressionado. Como ele é bom!
Bom, indo ao que interessa, meu pai foi admitido na Volkswagen do Brasil no final de 1979. Um choque, pois sua cultura fora adquirida numa empresa puramente norte americana, cultura esta bem diferente da Volkswagen, alemã. E acabou comprando um VW 1300 L azul marinho com interior azul. Era um Fusca, e eu detestava Fuscas quando era criança. Esse carrinho me levou na escola desde março de 1980 até os meus primeiros anos de trabalho, já como engenheiro formado.
Continua....
Caramba! sera que seu pai conhece meu padrinho?
ResponderExcluirtrabalhou na mesma época na Ford, ele foi supervisor da montagem dos 302 que vinham de fora e tinham que ser desmontados limpos e montados novamente e supervisor também da linha de montagem do corcelzinho!
O nome dele é Aparecido Panucci hoje ele mora em Santo André e é professor!
Até mais!
Pode ser que conheça. Como ele é leitor do blog, vai ver seu comentário. Vou perguntar também, ele deve se lembrar sim, se bem que a Ford era gigante. Vou falar conversar com ele e depois te falo!
ResponderExcluirForte abraço!
Vital
Vital, no trecho da tua narrativa onde tu comente que "ao escolher um caminho se deva seguir com garra", me identifiquei completamente com o teu pai. Pois a minha escolha profissional, que foi trabalhar com dodges praticamente a minha vida toda, teve épocas bem ruins, principalmente nos anos 90. Acho que persistência é tudo
ResponderExcluirAbração. Bela postagem!
Cuti
Cuti, obrigado pelos comentários! Os anos noventa foram mesmo muito complicados. Quanto às escolhas, temos que ir em frente. As vezes vamos bem, as vezes mal. Mas, meu amigo, digo que aprendemos muito mais nas más fases. Aprendemos a inovar, a valorizar a família, a ter mais gratidão pelos bons momentos da vida!
ResponderExcluirGrande abraço! Vital