sábado, 28 de abril de 2012

100 anos...

Hoje, dia 29 de abril de 2012, é o centenário do meu avô materno, Elias Maluf. Ele foi um homem realizador. Filhos de imigrantes libaneses que vieram com dinheiro para o Brasil e se estabeleceram na pequena cidade de Dourado. Lá, meu bisavô Cesário montou a sua loja e criou seus filhos, Elias (Babi) e Edwick Maluf.

Nahil e Cesário Maluf - início do século XX

Era um homem bem sucedido, mas a doença comeu-lhe todos os recursos e ele morreu muito cedo, em 1932, deixando esposa e filhos em situação muito difícil. Começava então a saga deste homem sem estudo, pobre e arrimo de família.

Com suspeita de câncer no céu da boca, uma biópsia tiraria a sua fala. Triste, contava que nesta época pensara em desistir de tudo. Não consigo imaginar o que este sujeito de dois metros passou, mas foi tudo muito difícil. Uma amiga de infância questionou em Dourado o seu paradeiro, contaram-lhe o que estava acontecendo ao Elias, seus problemas de saúde e a sua deprimente situação, residindo em São Paulo.


Santista doente. 

Com o Dr. Adhemar de Barros

 No seu difícil início de vida

garoto, em Dourado
Um gigante. Nadando no rio, anos 30.


Esta amiga se chamava Leonor Mendes de Barros, esposa do Dr. Adhemar de Barros. Ela encaminhou meu avô aos especialistas e ele foi operado no Hospital alemão. Esse feito gerou uma eterna gratidão à Leonor e uma amizade muito forte com o Dr Adhemar. O Ademarismo para ele passou a ser uma religião.

Meu avô foi o homem que mais assentou tijolos em Dourado, até hoje. Provavelmente ninguém lembrará de seu centenário, e se me lembro bem dele, também não daria a mínima importância.

Ele foi um empresário de sucesso, um homem autodidata e com um empreendedorismo nato. Construiu uma fábrica, uma escola, um hospital... Enfim, deixou a sua marca no mundo.

Convivemos apenas oito anos juntos, e para mim suas marcas registradas eram seu Dodge, suas fitas de tango, seu cigarro de palha e sua braveza. Era um homem respeitado, influente e de gênio muito difícil. Mas tivemos nossos momentos juntos. Lembro-me de quando íamos ao banco no seu R/T vermelho, quando íamos almoçar no Jaber do centro... Das viagens para Dourado...

Lembro-me com tristeza de quando soube que ele havia morrido, numa sexta-feira de setembro de 1980. E o quanto ele fez falta para minha mãe.

Mexendo em suas coisas (coisa que ele detestava que fizessem) encontrei muito de sua história, esses papéis velhos são a nossa conexão temporal.

Uma das coisas que mais chateou meu avô foi o impedimento que sofreu em seu segundo mandato como prefeito. A política foi, é e sempre será algo sujo. Não é por ser meu avô, mas ele era um idealista, um industrial, e isso mexia com os interesses dos fazendeiros locais. Resumindo, em 1966 um vereador de sua confiança se vendeu à oposição e o processo começou. No final meu avô provou a sua inocência, mas nunca mais quis saber de política ou de Dourado. Para se ter uma idéia, até pão e carne ele comprava em outra cidade. O que eu adorava, pois viajávamos 40 km todos os dias de Charger para Ribeirão Bonito.

Uma de suas paixões era a sua única filha. Minha mãe. Apesar de ser um pai austero, até difícil de se aguentar, os dois tinham um vínculo muito forte.

MM no seu 2o aniversário 
No início dos anos 80, aprendendo a ser empresária


Foi muito emocionante conseguir comprar um carro igual ao dele e poder mostra-lo a minha mãe. O Magnum original não foi muito curtido na época, foi o último carro dele. Foi vendido barato e nunca mais soube dele.

Estou preparando um resumo da minha coleção, em especial um capítulo sobre meu Magnum.




Notas Fiscais de seus Dodges


uma de suas marcas registradas: O Dodge 1979



Sobre sua carreira política, só soube pelo que li em seus documentos. em Especial selecionei a carta do homem que o traiu, um tal de Salvador Pallone. Segue a carta escrita por ele, justificando-se. Um sujeito mal alfabetizado, que era vereador em Dourado. Um fato engraçado é que minha bisavó, na época com setenta anos, saiu com sobretudo e armada para matar os traidores, a sorte é que meu avô soube e mandou busca-la.


Recorte de jornal da época. Meu avô, sentado. Essa mesa existe e está em casa. O cinzeiro em forma de pneu está no meu escritório. A esquerda, o traidor. A direita, em pé, nosso amigo Pedroca, dono da fazenda Bela Vista.

manuscrito original do traidor





datilografado.

Outro documento que encontrei e achei interessante é a resposta a uma intimação da prefeitura, quando foi investigado após o impedimento. Como disse, provou sua inocência, mas com certeza esse processo todo encurtou a sua vida em alguns anos. Achei interessante também a declaração de bens que foi-lhe solicitada durante o processo, questionando tudo o que tinha desde seu ingresso na vida pública. Um homem que ganhou tudo honestamente. 

Inclusive seu carro oficial era o seu Aero particular. Nunca gastou recurso da prefeitura com luxos para si próprio. Na verdade sua vida só progrediu financeiramente falando quando ele deixou a política e se dedicou somente a sua fábrica.







Nunca me esqueci do meu avô, uma maneira que me conecto a ele e a minha infância é curtindo minha pequena coleção de carros Dodge e guardando suas memórias e um pouco de seus objetos pessoais. Sempre guardei e conservei estas pequenas coisas. 


Catálogo 79 no qual escolheu seu carro, suas canetas, seu Omega automático... Palha de cigarro...


Bom, isso é apenas um pouco da vida desse homem, que para mim foi um grande cara. Uma pequena homenagem do seu neto mais velho.




























 Sua fábrica, erguida com muito esforço

saudades...

abraços a todos que tiveram paciência de ler.

Vital








9 comentários:

  1. Vital
    Que história passou teu avô! Uma das piores coisas que pode acontecer para um homem honesto e ser taxado de criminoso ou bandido, acaba com o cara! Porque o mau caráter não tá preocupado com o que as pessoas pensam dele, mas a pessoa digna, sim!
    Este Adhemar de Barros não foi o banqueiro sequestrado pela digníssima...?? Bem que a tua avó poderia ter feito uma limpa naquela época!
    Abraço ao amigo!
    Cuti

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    1. Cuti,
      A VPR-Palmares roubou o cofre que a amante do Adhemar mantinha no Rio de Janeiro com dinheiro dele que vinha de corrupção.

      Nessa época o Adhemar já havia morrido.

      Um abraço.

      Reinaldo
      http://reiv8.blogspot.com

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  2. Pois é, Cuti. Isso marcou-o. Porém foi melhor, saiu da política e sua vida melhorou muito. Cada um dos inimigos, coincidência ou não, teve um final triste. Um deles morreu num acidente no trevo de Dourado. Cada um que se ia ele comentava: "Que a terra lhe seja bem pesada", rsss....

    Grande abraço.

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  3. E de presente, o Santos deu uma surra no São Paulo hoje, kkkk!

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  4. Vital,

    Adorei a história. Muito legal também a homenagem. Que bom que você teve a oportunidade de guardar tantas coisas do seu avô.

    Interessante que ele tenha podido provar a sua inocência. A política tem um lado muito sujo freqüentemente.

    Um abraço.

    Reinaldo
    http://reiv8.blogspot.com

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    1. Reinaldo, Dourado é uma cidade de nível muito ruim. E meu avô tinha um gênio difícil. Apesar de ter feito patrimônio como industrial que foi, desde os anos 40, só perdeu $ com a política. A vida dele melhorou quando largou isso. E tudo porque um vereador seu se vendeu e não foi à plenária na qual foi votado o seu impedimento. Por um voto ele foi impedido. O vereador foi comprado na época.

      abraços!

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  5. muito bacana a história e obrigado por dividí-la conosco, como certeza seu avô está orgulhoso lá de cima do cara que você é aqui embaixo! abração,

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  6. Valeu Gian por ler, grande abraço e curta a sua viagem!

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  7. Ótimo post, Vital. Deu até vontade ir na casa do meu avô e ver se ele tem fotos antigas.

    Um forte abraço!

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